Dívidas quase impagáveis, idades avançadas da maioria dos componentes e o desinteresse das novas gerações podem decretar o fim do ciclo das quadrilhas juninas em Campina Grande e na maioria dos municípios paraibanos. O alerta foi feito pelo presidente da Associação das Quadrilhas Juninas de Campina Grande e Agreste da Paraíba, Lima Filho, que denuncia a falta de apoio dos poderes públicos e da iniciativa privada. “É uma manifestação cultural que está bastante ameaçada de ser extinta como muitas outras do Brasil”. As dívidas somadas das quadrilhas juninas maiores chegam até R$ 30 mil por ano.
De acordo com Lima Filho, a maioria das pessoas não entende a quadrilha junina como um importante componente do setor da economia criativa e produção associada ao turismo. “Todas, sem exceção acumulam dívidas”, destaca reportagem do Correio da Paraíba.
O quadrilheiro informa que as pessoas que estão à frente das quadrilhas juninas são professoras, “como dona Lenita, Teresinha, Celinha, Marlene; funcionários públicos, como o Joelder e Mahatma, e alguns até desempregados, que, no afã de não deixar a cultura morrer, entram todo ano num ciclo de dívidas para montar os espetáculos”, aponta.
O resultado dessa falta de recursos, segundo Lima Filho, é que os fornecedores ao não receberem o dinheiro pelos serviços e material, começam a se afastar das quadrilhas. Muitos só entregam o material contratado se as quadrilhas pagarem.
A costureira Edileuza de Almeida afirma que ainda não recebeu o dinheiro dos serviços de produção das roupas de duas quadrilhas juninas no ano ado. Este ano, disse, só fez contrato com uma quadrilha. “Evito costurar para as juninas, porque elas ou não pagam ou demoram a pagar”.
Dos fornecedores, conforme Lima Filho, os que mais sofrem são as costureiras, porque o figurino geralmente é o último a ficar pronto e, quando fica, não se tem dinheiro suficiente para resgatar. “Eles acabam liberando para algumas juninas, mas que não conseguem voltar para pagar e fica a dívida. Não são muitas, temos três ou quatro nesta situação, mas os fornecedores generalizam e cada dia fica mais difícil fazer quadrilha junina.”
Para manter as atividades, as quadrilhas realizam bingos, feijoadas e pequenos eventos para arrecadar dinheiro. Os valores são gastos para a montagem do espetáculo, mas, segundo Lima Filho, nunca é suficiente para cobrir os autos custos de materiais e mão de obras.
Quadrilhando deve acabar
Há três anos, as quadrilhas juninas de Campina Grande visitaram a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), buscando intercâmbio entre os dois mais famosos e reconhecidas manifestações culturais brasileiras.
Conheceram o processo de criação do evento carioca e, acima de tudo, como empreender tendo como pano de fundo as apresentações das quadrilhas juninas. A comitiva de Campina Grande foi levada pelo Sebrae da Paraíba, com o objetivo de fomentar esse intercâmbio e buscar alternativas financeiras para os quadrilheiros.
Desse encontro surgiu a proposta da criação do projeto Quadrilhando, que foi arrebatador em 2015. Com apoio da Federação das Indústrias da Paraíba, que cedeu um amplo espaço, onde foi construída uma arena para a apresentação das juninas, e criado um tipo de feira com comidas típicas e comercialização de produtos alusivos às quadrilhas juninas, como roupas, adereços, entre outros, o projeto foi um tremendo sucesso.
Se no primeiro ano o Quadrilhando contou com o forte apoio da Fiep, no ano seguinte o mesmo não aconteceu. Houve muita dificuldade de encontrar apoios, tanto assim, que o espaço conseguido no Parque do Povo praticamente escondeu os quadrilheiros.
“É um projeto magnífico que precisava ser abraçado por várias partes da sociedade, do poder público ao privado e até o próprio quadrilheiro. No primeiro quadrilhando o setor privado e os quadrilheitos investiram no projeto e ele foi sucesso nacional. No segundo ainda respirou. No entanto, se você procurar saber em Campina sobre o projeto poucos saberão responder” lamenta Lima Filho.