Na Paraíba, morre-se de tudo, menos de tédio. Já não é novidade o cisma dentro do PSB estadual. Especulações que percorriam os bastidores apenas à boca miúda têm pululado nos noticiários políticos e, inclusive, adquirido contornos dramáticos nos últimos dias. Assim, para além da polarização nacional entre Coxinhas vs. Mortadelas, ao que parece, vemos em formação, aqui na Paraíba, o grupo do ex-governador Ricardo Coutinho contrapor-se aos entusiastas do atual gestor João Azevêdo, dupla até então inseparável.
Para quem acompanha a política com o mesmo esmero que se dedica à leitura dos clássicos, é impossível não fazer referência do cenário atual à “Divina Comédia”, livro do autor italiano Dante Alighieri. Trata-se de uma obra-prima medieval, um poema com 100 cantos divididos em 3 partes (33 dedicados ao Inferno, 33 ao Purgatório e 33 ao Paraíso, além de uma introdução), apresentados em tercetos rimados, o que traz irável regularidade e beleza para quem lê.
Ao narrar a viagem extraordinária do personagem principal ao Inferno, Purgatório e ao Paraíso, Dante Alighieri registra com rara argúcia um desfile de tipos humanos e, mais do que isso, esmiúça os entremeios dos acordos políticos. A começar pela fixação do autor italiano pelo número 3 (para ele, o número perfeito), aqui na Paraíba, a trinca faz todo o sentido. Após a posse de João Azevêdo, três meses foi o tempo necessário para o Gaeco efetuar a prisão da então secretária Livânia Farias, fato que culminou em uma série de desdobramentos da Calvário, operação que investiga uma organização criminosa a quem se atribui desvios de recursos públicos, corrupção, lavagem de dinheiro e peculato.
Três foram os “supersecretários” de Ricardo Coutinho que ruíram no governo de João Azevêdo, todos chamuscados pela Calvário (além de Livânia, temos também Gilberto Carneiro e Waldson de Souza).
Ao todo, 6 (percebam que o número é um múltiplo de 3) secretários da gestão ada foram remanejados para pastas menores ou desembarcaram de vez (acrescentemos aos nomes citados anteriormente, Claúdia Veras, Amanda Rodrigues e Luís Tôrres).
Três foi o número de vezes que João negou enfaticamente qualquer crise dentro do PSB, estremecimentos entre a sua relação com o aliado Ricardo Coutinho ou reflexos da Operação Calvário no Governo do Estado. Quando interpelado pelo RádioBlog, em maio de 2019, ele assegurou resoluto: “Não existe isso. Talvez seja a vontade de alguns, como você”. Bem, três meses depois dessa declaração, cá estamos com farpas lançadas de ambos os lados.
Confira o áudio:
Três são, enfim, as versões que aparecem nos noticiários sobre a disputa entre Azevêdo e Coutinho:
1) Há quem acredite que a crise instalada é irremediável. A personalidade centralizadora e o apego ao poder do ex-governador provocaram atritos na nova gestão. A solução estaria, portanto, no desembarque de João do PSB ou na saída de Ricardo para outra legenda;
2) Há quem defenda que tudo não a de encenação, já que com uma disputa apenas aparente, o coletivo girassol monopolizaria o cenário político para esvaziar a oposição, ao mesmo tempo em que tentaria blindar João das possíveis consequências da Operação Calvário;
3) A terceira e última versão, talvez, seja a mais intrincada. Há quem reconheça que, de fato, exista desconforto e disputas internas no coletivo girassol. No entanto, por temer ser arrastado pelos desdobramentos da Operação Calvário, João Azevedo, o ex- supersecretário de Ricardo ungido com 3 pastas (olha a trinca novamente!) pela gestão anterior, manteria uma “guerra fria”, sem liberdade ou coragem suficiente para romper, afinal, está umbilicalmente envolvido com o antecessor, seu cúmplice. Por isso, embora tenha uma caixa repleta de canetas, ao encampar pela terceira vez a gestão estadual do PSB na Paraíba, João mantém-se na retaguarda. Neste caso, vale atentar-se para o limiar tênue entre prudência e covardia.
Em sua descrição do Inferno, Dante Alighieri narra os 9 círculos (número múltiplo de 3, é claro!) que compõem as profundezas da terra, local repleto de almas atormentadas, ladrões, aduladores, hipócritas, trapaceiros, traidores, luxuriosos, avarentos, falsificadores e arrogantes. No entanto, os indecisos e pusilânimes, triste condição daqueles cujas almas covardes vivem sem infâmia e sem honra, nem no Inferno podem entrar. Os céus os expulsaram para não se diminuírem com sua presença, tampouco o Inferno os recebe, como recebe os anjos rebeldes que alguma glória, ao menos, tiveram.
O escritor norte-americano Mark Twain dizia que os dois momentos mais importantes da vida de um homem são quando ele nasce e quando ele descobre o porquê. Para o prefeito Cícero Lucena (PP), há um terceiro momento tão importante quanto. Descobrir o porquê ele desistirá de disputar o governo da Paraíba caso esteja à frente das pesquisas.
Foi exatamente o que ele cobrou ao ser perguntado nesta segunda, 28, no Frente a Frente da Tv Arapuan, se abriria mão da candidatura ao governo caso estivesse na frente nas pesquisas. “Teria que ter um porque!”, disse sem hesitar.
Sobre a tal “candidatura de Lucas Ribeiro (PP) ao governo caso João Azevedo saia para se candidatar ao Senado”, Cícero foi ainda mais enigmático para dizer que, mesmo nesta situação, a candidatura da senadora Daniella Ribeiro (PP) à reeleição também deve ser considerada natural. E emendou: “Nem tudo que é natural é o que vai acontecer”.
Na entrevista toda, Cícero destacou suas ações quando governador na década de 90, quando substituiu Ronaldo Cunha Lima e assinou decreto de criação de mais de 50 cidades na Paraíba, descartou aliança com a oposição declarando-se ser uma das figuras mais leais da política paraibana e defendeu que “os interesses pessoais” não estejam acima da necessidade de dar continuidade ao projeto de João Azevedo no governo.
E foi além: disse que espera tudo seja definido até junho, antes mesmo do São João, que é pra dar tempo do candidato se fortalecer ainda mais.
De tudo o que ele disse, duas coisas podem resumir tudo. Cícero é o candidato ao governo mais oficial de todo o Brasil, mais do que os que vão para reeleição. Lembrando que ao fazer a chamada para o programa só falou em “projeto da Paraíba” e não mais de João Pessoa. Registrou que pesquisas apontam que o próprio pessoense quer que ele leve a experiência da capital para o estado. E ainda disse que o vice-prefeito Léo Bezerra já é o segundo prefeito de João Pessoa e vai dar continuidade sem problemas a tudo que está sendo desenvolvido.
E a segunda conclusão é de que a coisa mais difícil do mundo será convencê-lo a desistir desse projeto.
Simplesmente “porque” ele entende que essa é a melhor – talvez a única – oportunidade de sua vida. E que, do jeito que vai correndo solto, com uma liberdade de ação maior do que as dos seus parceiros de grupo, chegará no momento da decisão com um patamar de difícil convencimento.
Será difícil alguém responder “por que não” Cícero.
Após quase 20 anos de atuação, Elsinho Carvalho pede desligamento da Assembleia Legislativa
Publicado
em 22 de abr de 2025
Por
Redação do Portal da Capital
O advogado Elson Carvalho Filho, conhecido como Elsinho Carvalho, pediu hoje desligamento da Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba após duas décadas de atuação no Legislativo paraibano.
Em seu instagram, ele agradeceu aos deputados e deputadas e aos servidores da Casa.
“Hoje encerro um ciclo com o sentimento de gratidão e de dever cumprido. Em nome de Álvaro Dantas e da experiente deputada Chica Motta, agradeço a todos, indistintamente. Muito obrigado pelo convívio e aprendizado ao longo destes anos.”
Elsinho iniciou suas atividades na Assembleia Legislativa prestando assessoria aos deputados Manoel Júnior (in memoriam), Olenka Maranhão, Vital do Rego (hoje ministro e presidente do Tribunal de Contas da União) e a Gervásio Maia.
Depois atuou na Procuradoria da Casa, na Chefia de Gabinete da Presidência e na Chefia da Secretaria do Gabinete da Presidência, por quase dez anos, nas gestões do hoje deputado federal Gervasinho e do atual presidente, Adriano Galdino.
Durante sua trajetória Elsinho participou ativamente da elaboração de importantes projetos de lei que beneficiaram a população paraibana.
Também teve destacada atuação em Comissões Parlamentares de Inquérito – Is, nos projetos de aposentadoria incentivada para os servidores da Casa e em reformas istrativas.
Atencioso, sempre esteve atento à imprensa e aos servidores.
Em sua despedida, recebeu mensagens de carinho e agradecimento de amigos, servidores e deputados.
“Obrigada por ser vir ao povo da Paraíba com tamanho zelo e dedicação”, escreveu a deputada Francisca Motta (Republicanos), avó do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta.
Já o deputado Anderson Monteiro (MDB) escreveu: “Muito bom ter convivido com o amigo na ALPB. Sucesso.”
Advogado reconhecido no Estado, mantém escritório de advocacia com atuação no direito público, entre outras áreas, há quase 20 anos.
Uma declaração do deputado Aguinaldo Ribeiro, presidente estadual do Progressistas, está moendo na imprensa e nas rodas políticas nos últimos dois ou três dias. Foi a defesa para que a chapa da aliança liderada pelo governador João Azevedo seja definida logo. Não houve sinalização de prazo, mas supõem-se que seja com certa urgência.
A fala de Aguinaldo ganhou maior repercussão porque, de forma direta, ele defendeu que o governador decida já se será candidato a senador ou não. Esse é o ponto nevrálgico da coisa.
Não é apenas Aguinaldo que cobra definição mais imediata do governador em relação à candidatura ao Senado. Existem várias vozes neste sentido, incluindo a de aliados e até amigos do governador. Avalia-se que, sem essa definição, João perderia espaços eleitorais e pode correr risco nas urnas.
O problema é que este talvez seja o assunto mais complexo, melindroso e delicado da política estadual. É que a questão tem a ver não apenas com a eleição, mas, sobretudo e essencialmente, com o dilema entre o poder político (ou o poder em marcha para a finalização) e a perspectiva de poder, conceitos que dominam bem os bastidores do ambiente político, embora muitas vezes sejam tratados com demasiada parcimônia.
No caso concreto, o que entra em jogo é que no momento em que o governador João Azevedo anunciar taxativamente, sem nenhuma dúvida, que será candidato a senador, indubitavelmente vai se instalar o processo de finalização de seu governo. Começará a contagem regressiva para a renúncia, que precisará ocorrer até o dia 2 de abril de 2026. Seu poder governamental começará a se esvair a cada mês. Querendo ou não, não demorará que se e a registrar nos dedos a quantidade de meses restante para o fim do governo (10, 9, 8, 7 meses e assim por diante).
Os milhões de investimentos em grandes obras arão a importar menos. Valerá mais a corrida em busca da consolidação de privilégios grupais ou pessoais. Com a decisão plena de candidatura, o poder do governo posto começará a se dissolver. Não adiantam contra-argumentos. Existem centenas de exemplos neste sentido por aí.
Na política, começará a funcionar o que se convencionou chamar de perspectiva de poder. Ocorre quando do ponto de vista temporal o cargo de poder central no município, estado ou no país começa a se aproximar do ungido. Se dá, então, que, automaticamente o futuro detentor do poder a a ser foco de todas as atenções e as soluções sobre contratos, empregos, conflitos e encaminhamento de privilégios já am a ser concentrados no futuro governante e gestor. Trata-se de uma mudança de núcleo de poder quase inevitável.
Pode até ser que o deputado Aguinaldo Ribeiro e os defensores da antecipação de decisão de João nem tenham pensado nisso. Na prática, porém, a decisão final do governador sobre a candidatura ao Senado implica no início da transferência do poder político no Estado. Não foi à-toa, por exemplo, que, recentemente, quando o governador estava de férias, numa visita do vice-governador Lucas Ribeiro a Cajazeiras, o ex-prefeito Zé Aldemir tenha levado um grupo de servidores demitidos do hospital local para o evento. A promessa é que serão reitidos quando Lucas assumir o governo. Afinal, Lucas e Aldemir são do mesmo partido.
Não são também à-toa os registros históricos de prefeitos e governadores que deixam para a undécima hora o anúncio sobre renúncia ou não ao poder para a disputa de outro cargo. São conjunturas em que o poder de cautela e preservação funciona mais alto.
É este quadro que leva o governador João Azevedo a istrar sua situação política. Por isso, num momento, ele adianta a candidatura ao Senado e, noutro, planta a dúvida. Parede conduzir o poder na ponta dos dedos até abril do ano que vem para não perder autoridade.
Assim, não foi de graça que o secretário Tibério Limeira (istração) disse que o PSB ainda não abriu mão da cabeça de chapa. Permite a leitura que o governador pode ficar no cargo para eleger o sucessor. Do mesmo modo, não são gratuitas as declarações de aliados defendendo a permanência do governador no poder até o fim do mandato.
A verdade é que, por todas essas sutis implicações, dificilmente, o governador João Azevedo anunciará uma decisão definitiva sobre a candidatura ao Senado até o início de 2026. As candidaturas serão estimuladas, mas não efetivadas. Pode parecer ruim para o esquema liderado pelo governador. Todavia, vale lembrar que a história revela que quase nada se movimenta a definição do lado do governo. Afinal, as campanhas eleitorais na Paraíba não costumam andar apenas com uma perna.
No mais, talvez seja prudente avisar aos aliados do governador que, às vezes, um conselho amigo pode carregar algum perigo.