A saúde mental ganha cada vez mais destaque nas discussões sobre o ambiente de trabalho. O aumento significativo dos afastamentos por esgotamento emocional e transtornos mentais acende um sinal de alerta para empresas e gestores: as dimensões psicológicas e sociais de um indivíduo também precisam ser tratadas dentro das organizações.
Medidas como a atualização da NR-1 – norma reguladora que estabelece as diretrizes para a gestão da segurança e saúde no trabalho – são um reflexo de como o bem-estar mental a a ser reconhecido como uma parte essencial para o bom funcionamento do ambiente corporativo. A partir de maio de 2026, a norma a a exigir a gestão de riscos psicossociais no trabalho, e as organizações am a ter a obrigação de identificar, avaliar e gerenciar esses riscos com o mesmo rigor aplicado aos riscos físicos e químicos.
Vladimir Miná, advogado corporativo do Miná & Alves Advocacia, afirma que os riscos psicossociais referem-se a fatores que podem ter um impacto negativo na saúde mental e emocional das pessoas. “Os riscos incluem tanto as características do próprio trabalho quanto relações interpessoais e organizacionais. Alguns exemplos de riscos psicossociais são: altas demandas de trabalho, baixo e social, assédio moral ou sexual e insegurança no emprego”, destaca.
A atualização da NR-1 é uma medida do governo federal para que as empresas façam a prevenção desses problemas no ambiente de trabalho. “Sendo uma obrigação trabalhista, o não cumprimento das exigências da norma podem gerar penalidades como multas aplicadas pelo Ministério do Trabalho, e até interdições”, orienta o advogado.
A NR-1, porém, não determina os instrumentos a serem usados pelas empresas para mapear os fatores psicossociais. Márcia Peixoto, psicóloga especialista em Recursos Humanos e diretora da Roots Talent, afirma que mesmo não sendo determinado pela norma, é essencial que as empresas adotem estratégias práticas para mitigar esses riscos. Nesse contexto, o setor de Recursos Humanos assume papel estratégico. “O RH vai ter que buscar ferramentas, parcerias e desenvolver projetos que envolvam a saúde mental dos colaboradores”, explica a especialista.
Márcia destaca que as iniciativas necessárias estão ao alcance da maioria das empresas. “Ações de integração, de relacionamento interpessoal, pesquisas de clima, acompanhamentos de liderança, entrevistas de desligamento, por exemplo, vão detectar precocemente problemas que estão causando algum tipo de sofrimento emocional aos funcionários”, diz.
Para garantir a proteção dos colaboradores e evitar que eles sejam expostos a algum tipo de risco psicossocial, Márcia compartilha dicas que podem ajudar a promover o bem-estar mental nas empresas:
Cultura de apoio – É essencial que as empresas construam uma cultura organizacional que valorize seus colaboradores, onde eles se sintam apoiados, respeitados, e tenham liberdade para compartilhar suas preocupações. Comunicação transparente, escuta ativa e acompanhamento constante da liderança são medidas que podem ser tomadas para construir um ambiente de trabalho mais seguro.
Campanhas educativas – Em algumas situações, as vítimas nem sabem que estão ando por um tipo de situação abusiva, por isso, promover ações que tragam conhecimento sobre assuntos como saúde mental, assédio moral e sexual e gestão de tempo são de extrema importância para a conscientização dos funcionários.
Canais de denúncia – É importante que as empresas estabeleçam canais de denúncia, onde as vítimas possam relatar irregularidades e situações assediadoras. Dessa forma, a gestão da empresa pode monitorar e acompanhar de perto as situações que estão gerando riscos para os colaboradores. É essencial, também, a existência de canais de denúncia anônima para as vítimas que não querem ser expostas.